A prática da fisioterapia é constantemente desafiada a evoluir e se adaptar às necessidades dos pacientes e à modernização do sistema de saúde.
Nesse cenário, a CBDF (Classificação Brasileira de Diagnóstico Fisioterapêutico) surge como uma ferramenta essencial, desenvolvida para aprimorar a padronização e a qualidade do diagnóstico realizado pelos profissionais da área.
Ao integrar a Classificação Internacional de Funcionalidade (CIF) e incorporar especificidades da prática fisioterapêutica, a CBDF não apenas facilita a comunicação entre os fisioterapeutas, mas também potencializa a avaliação e o acompanhamento dos resultados no tratamento.
Neste post, explicaremos o que é a CBDF, como ela foi construída, suas vantagens para a profissão e como pode ser utilizada para melhorar a prática clínica e impulsionar a valorização da fisioterapia no Brasil.
O que é a CBDF?
A CBDF (Classificação Brasileira de Diagnósticos Fisioterapêuticos) é um sistema desenvolvido para padronizar a terminologia e a codificação dos diagnósticos fisioterapêuticos no Brasil.
Ela classifica os estados de saúde relacionados às deficiências cinético-funcionais, que são alterações nas funções e/ou estruturas do corpo, afetando sistemas orgânicos como os nervoso periférico, nervoso central, musculoesquelético, respiratório, cardiovascular, tegumentar, urinário, genital, digestório e metabólico.
Este sistema utiliza categorias que substituem descrições terminológicas por códigos alfanuméricos, permitindo o registro, a análise e a interpretação das deficiências de maneira sistemática.
Além disso, possibilita avaliar os níveis de capacidades funcionais, as limitações de mobilidade e as restrições à participação social, fornecendo também dados relacionados à mortalidade associada a essas deficiências.
Compreender as causas que impactam as capacidades funcionais e as limitações de mobilidade ajuda a criar estratégias para a prevenção de deficiências e a promoção da saúde.
Como a CIF colaborou para a construção da CBDF?
A CIF (Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde) desempenhou um papel crucial na criação da CBDF, fornecendo a base conceitual e os domínios necessários para estruturar a classificação.
A Parte I da CBDF, por exemplo, foi desenvolvida a partir dos domínios da CIF relacionados às funções e estruturas do corpo, enquanto a Parte II foi fundamentada nos domínios de atividade e participação da CIF.
A CBDF adota a estrutura dos qualificadores da CIF, que indicam o grau de funcionalidade ou incapacidade presente no paciente. Um exemplo claro dessa aplicação está na classificação da dor, onde os qualificadores da CIF são usados para determinar a intensidade da dor de forma sistemática:
- 0 = Sem dor
- 1 = Leve dor
- 2 = Dor moderada
- 3 = Dor grave
- 4 =Dor insuportável
- 8 = Dor não especificada
- 9 = Dor não aplicável
Dessa forma, a CIF oferece um padrão robusto que guia a construção da CBDF, promovendo maior precisão e consistência nos diagnósticos fisioterapêuticos.
Qual o objetivo da criação da CBDF?
O principal objetivo da criação da CBDF é reforçar e consolidar a identidade, autonomia e autoridade científica do fisioterapeuta, especialmente no que diz respeito ao domínio de atos privativos da profissão.
Ela busca assegurar a atuação do fisioterapeuta na consulta, na elaboração e descrição dos diagnósticos e no controle evolutivo dos pacientes. Também tem como finalidade padronizar e unificar a terminologia utilizada pelos profissionais ao se referirem às condições de saúde cinético-funcionais, promovendo maior clareza e consistência nos diagnósticos fisioterapêuticos.
Por que não utilizar a CIF ao invés da CBDF?
Embora a CIF seja uma classificação universalmente reconhecida pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e orientada para a abordagem biopsicossocial, ela não é específica para o diagnóstico fisioterapêutico.
A CBDF, por sua vez, é uma classificação focada exclusivamente nas condições de saúde cinético-funcionais, sendo um ato privativo do fisioterapeuta, que incorpora todas as particularidades da profissão.
Ela não substitui a CIF, mas visa potencializar o conhecimento dos fisioterapeutas sobre seus princípios, abordando as deficiências nas funções e estruturas dos sistemas orgânicos específicos.
Também integra os aspectos de limitação de mobilidade e restrições à participação social, aspectos fundamentais na avaliação fisioterapêutica. Portanto, a CBDF complementa a CIF, tornando o diagnóstico mais preciso e alinhado às especificidades da prática fisioterapêutica.
Como foi construída?
A criação da Classificação Brasileira de Diagnósticos Fisioterapêuticos teve início em 2019, a partir de uma solicitação do COFFITO à Comissão Nacional de Procedimentos Fisioterapêuticos.
O objetivo era suprir uma lacuna existente no então Referencial Nacional de Procedimentos Fisioterapêuticos, atualmente denominado Referencial Brasileiro de Procedimentos Fisioterapêuticos (RBPF), que já contemplava consultas, exames funcionais e intervenções, mas carecia de uma organização sistematizada dos diagnósticos fisioterapêuticos.
A primeira versão da proposta foi distribuída aos CREFITOs e entidades conveniadas, possibilitando ampla participação da comunidade fisioterapêutica. As sugestões enviadas foram cuidadosamente analisadas e incorporadas pela Comissão, reforçando o caráter colaborativo da construção.
Para garantir a representatividade de todas as áreas e especialidades da fisioterapia, um grupo de trabalho multidisciplinar foi criado. Essa equipe assegurou que as particularidades de cada campo de atuação fossem refletidas na classificação, contribuindo para sua robustez e aplicabilidade prática.
Reconhecendo a natureza dinâmica da profissão e a necessidade de constante atualização, a resolução que institui a CBDF estabelece, em seu artigo 3º, revisões a cada dois anos.
Esse processo é aberto à participação de fisioterapeutas, conselhos regionais e associações, fortalecendo ainda mais a legitimidade e a relevância da CBDF para a prática clínica no Brasil.
O que é SICOFITO?
O Sistema Integrado dos Conselhos de Fisioterapia e Terapia Ocupacional do Brasil (SICOFITO) é uma plataforma digital que reúne e organiza as informações dos profissionais vinculados aos Conselhos Federal e Regionais, facilitando o gerenciamento de dados e a padronização dos processos institucionais.
Como eu posso usar a CBDF?
A CBDF deve ser empregada como referência oficial na identificação e codificação dos Diagnósticos Fisioterapêuticos, conforme determina a Resolução COFFITO nº 555/2022, assegurando uniformidade e rigor técnico na documentação profissional.
Qual é a estrutura de codificação da CBDF?
A codificação da CBDF é composta por elementos que descrevem detalhadamente as condições cinético-funcionais do paciente, divididos em duas categorias principais:
1. Caracterizadores das condições de saúde cinético-funcional:
– 1º dígito (1 algarismo): Indica o sistema orgânico, numerado de 01 a 10.
– 2º dígito (2 algarismos): Representa o grau de risco, sendo 00 para ausência de risco e 01 a 10 para presença de risco de deficiência cinético-funcional.
– 3º ao 6º dígitos (1 algarismo cada): Correspondem aos qualificadores de risco de alteração funcional e/ou estrutural, utilizando 0 para ausência e 4 para presença de risco.
2. Caracterizadores das condições de deficiência cinético-funcional:
– A. Dois dígitos para o sistema orgânico predominante no estado funcional e/ou estrutural.
– B. Dígitos 3, 4, 5 e 6 indicam as deficiências das funções corporais.
– C. Dígitos 4, 5 e 6 especificam os segmentos ou estruturas corporais afetadas.
Quais são os benefícios do uso da CBDF como uma nomenclatura específica dos fisioterapeutas?
Adotar a CBDF como linguagem própria da fisioterapia fortalece a identidade da profissão e assegura maior autonomia no exercício clínico. A padronização dos termos e conceitos permite a sistematização das informações, o que contribui para uma prática mais precisa e qualificada, além de facilitar o monitoramento e a avaliação dos resultados terapêuticos.
Como a CBDF poderá ser usada para avaliar os resultados da assistência Fisioterapêutica (evolução do cliente/paciente)?
A CBDF permite ao fisioterapeuta acompanhar a evolução do paciente ao longo do tratamento, por meio da comparação das condições clínicas registradas no início, durante e ao término do plano de intervenção.
Esse acompanhamento possibilita a geração de indicadores que evidenciam a efetividade da assistência prestada, contribuindo para demonstrar a resolutividade dos serviços e aprimorar a tomada de decisão clínica.
Políticas públicas podem ser implementadas ou aprimoradas com o uso da CBDF pelos fisioterapeutas brasileiros?
Sem dúvida, o uso da CBDF pelos fisioterapeutas possibilita a padronização da linguagem e a geração de dados estatísticos e epidemiológicos a partir dos diagnósticos das condições cinético-funcionais e sua evolução.
Essas informações estruturadas podem orientar gestores na formulação e aprimoramento de políticas públicas e privadas, promovendo decisões mais assertivas e alinhadas às reais necessidades da população.
Como enviar as minhas considerações?
As sugestões à CBDF podem ser enviadas diretamente pela plataforma SICOFITO. O fisioterapeuta deve acessar o sistema com seu login e encaminhar suas considerações durante os anos ímpares, no período de 1º de fevereiro a 31 de março, conforme estabelece o Artigo 3º da Resolução nº 555.
O uso da CBDF será obrigatória?
De acordo com o Artigo 2º da Resolução COFFITO nº 555/2022, a utilização da CBDF é obrigatória como padrão na identificação e codificação dos Diagnósticos Fisioterapêuticos, devendo, inclusive, estar registrada no prontuário do paciente.
Como utilizar a CBDF nos planos de saúde?
A CBDF deve ser utilizada como diagnóstico exclusivo do fisioterapeuta, independentemente da área de atuação ou contexto assistencial.
Sua codificação representa o diagnóstico fisioterapêutico em si, e não o procedimento ou intervenção realizada. Assim, deve ser aplicada em prontuários, laudos, relatórios e pareceres, inclusive nos atendimentos vinculados a planos de saúde.
Qual a importância da CBDF para a Fisioterapia brasileira, especialmente no que diz respeito à valorização e autonomia profissional?
A CBDF representa um avanço significativo para a Fisioterapia no Brasil, ao consolidar uma identidade profissional própria, com uma lista padronizada de diagnósticos, terminologias e códigos exclusivos da área. Com interface acessível por computador ou celular, sua aplicação é prática e moderna.
Contudo, seu uso exige sólida base científica e competência técnica na avaliação semiológica, para identificar corretamente disfunções cinético-funcionais, limitações de mobilidade e restrições de participação.
Ao estabelecer um diagnóstico exclusivo da profissão, a CBDF fortalece a autonomia do fisioterapeuta e legitima sua atuação como agente principal na prescrição das condutas terapêuticas.
Como fazer um laudo fisioterapêutico?

Para fazer um laudo fisioterapêutico, siga os seguintes passos:
- Identificação do paciente: Inclua dados como nome, idade, sexo e número de registro (se necessário).
- Queixa principal: Descreva de forma clara a queixa do paciente, ou seja, o motivo da consulta ou do atendimento.
- Histórico clínico: Apresente um resumo do histórico médico e fisioterapêutico do paciente, incluindo lesões anteriores, tratamentos realizados e condições atuais.
- Exame físico: Registre os achados do exame físico, como mobilidade, força, postura, palpação, testes específicos e qualquer outro dado relevante.
- Diagnóstico fisioterapêutico: Baseado na avaliação clínica, faça o diagnóstico das deficiências funcionais identificadas, usando terminologia padronizada (como a CBDF, se for o caso).
- Plano de tratamento: Defina os objetivos terapêuticos, as técnicas a serem utilizadas e a evolução esperada ao longo do tempo.
- Prognóstico: Dê uma previsão sobre a recuperação do paciente, com base no diagnóstico e no plano de tratamento.
- Assinatura e data: Finalize o laudo com a assinatura do fisioterapeuta e a data de emissão.
Lembre-se de ser claro, objetivo e utilizar uma linguagem técnica adequada para que o laudo tenha validade profissional.
Perguntas Frequentes
O que é um diagnóstico fisioterapêutico?
É a identificação de disfunções cinético-funcionais, limitações de mobilidade ou restrições de participação, com base na avaliação fisioterapêutica, que orienta a conduta e o plano de tratamento.
Qual a diferença entre diagnóstico médico e diagnóstico fisioterapêutico?
O diagnóstico médico identifica doenças e suas causas. Já o diagnóstico fisioterapêutico reconhece alterações funcionais do movimento e suas consequências, orientando intervenções específicas da fisioterapia.
O que devo escrever no meu prognóstico fisioterapêutico?
No prognóstico fisioterapêutico, deve-se descrever as possibilidades de recuperação, os objetivos terapêuticos, o tempo estimado de tratamento e os fatores que podem influenciar nos resultados.
O que escrever no diagnóstico cinético funcional?
No diagnóstico cinético-funcional, deve-se registrar as alterações identificadas na função e estrutura do corpo, como déficits de força, amplitude de movimento, controle motor, equilíbrio ou mobilidade, relacionadas à condição do paciente.
Sou estudante, como tenho acesso à plataforma do Sistema Coffito/Crefitos para utilização virtual da CBDF?
Para acessar a plataforma do Sistema Coffito/Crefitos e utilizar a CBDF de forma virtual, o estudante deve realizar o cadastro na plataforma oficial do Coffito/Crefitos. Esse cadastro pode ser feito através do site institucional, geralmente com o apoio de sua instituição de ensino.
Em alguns casos, a plataforma pode exigir a inserção de informações acadêmicas para confirmar o status de estudante. Após o cadastro, será possível acessar as ferramentas disponíveis para utilizar a CBDF na prática fisioterapêutica.
Posso salvar os dados do meu paciente na plataforma SICOFITO?
Sim, é possível salvar os dados do paciente na plataforma SICOFITO. A plataforma oferece recursos para armazenar e organizar as informações de forma segura, facilitando o acesso e a gestão dos dados relacionados aos diagnósticos e tratamentos fisioterapêuticos.
Conclusão
A criação da CBDF representa um avanço significativo na fisioterapia brasileira, proporcionando uma terminologia padronizada e específica para os diagnósticos fisioterapêuticos.
Ela não só fortalece a identidade, autonomia e autoridade científica dos fisioterapeutas, mas também aprimora a precisão na avaliação e no controle evolutivo dos pacientes.
Ao integrar os conceitos da CIF, a CBDF oferece uma estrutura clara que permite aos profissionais avaliar de forma sistemática as deficiências cinético-funcionais e suas implicações nas atividades diárias e na participação social.
A utilização da CBDF facilita a comunicação entre os profissionais da saúde, melhora a qualidade do atendimento e pode até mesmo influenciar políticas públicas voltadas para a saúde, impulsionando o desenvolvimento e valorização da profissão.
Com a plataforma SICOFITO, os fisioterapeutas têm acesso a recursos que otimizam o armazenamento de dados, promovendo maior organização e acompanhamento do progresso dos pacientes.
Não apenas valoriza a fisioterapia no Brasil, mas também proporciona ferramentas para a prática clínica mais eficiente e fundamentada, garantindo que os profissionais possam oferecer um atendimento cada vez mais qualificado e alinhado às necessidades dos pacientes.